sábado, 25 de dezembro de 2010

Férias

O valor das férias para a formação cultural dos alunos

  A hora do descanso é essencial para ampliar o repertório de cultura. Mas é preciso garantir que todos tenham a chance de fazer isso

Dezembro. A última folha do calendário. Conforme nossos alunos enfileiram um X após o outro na sequência dos dias do mês 12, em sua cabeça parecem ecoar algumas palavras que prenunciam o que vem por aí: liberdade, exploração, descoberta. De fato, ao acenar com um cenário de diversão, as férias têm o potencial de alargar horizontes e enriquecer histórias de vida. Pelo menos para as famílias de maior poder aquisitivo, que se programam para viajar, conhecer novas culturas ou ir a museus, teatros e cinemas.
Nas periferias e em muitas áreas rurais do Brasil, porém, o verão está bem longe disso. Sem opções culturais ao alcance dos pés (ou do bolso), o tempo livre das crianças pobres acaba restrito a poucas opções: ajudar nas tarefas de casa, assistir televisão ou, em tempos de inclusão digital, passar o dia navegando na internet. Em resumo, nada que ofereça grandes oportunidades de crescimento social e intelectual. 


Há quem defenda que as férias - "certo número de dias consecutivos destinados ao descanso", como define o dicionário Aurélio - não têm nenhum impacto na aprendizagem. É um equívoco. O tempo dedicado ao ócio, como indicam muitos estudos, é parte integrante do que se entende, hoje em dia, por Educação. Como explica o pesquisador espanhol
Javier Melgarejo Draper, um sistema educativo é composto de três subsistemas. Dois são bem conhecidos: o escolar e o familiar. O terceiro deles, o sociocultural, é mais difuso. Compõe-se dos recursos culturais que podem ter alguma finalidade na formação individual: bibliotecas, cinemas, museus, corais, centros esportivos, teatros, televisão, associações e grupos de amigos.

Ao analisar por que a Finlândia apresenta os melhores resultados nas avaliações internacionais, Draper chegou à conclusão de que, além de apostar em soluções óbvias para melhorar o ensino (selecionar os melhores professores, valorizá-los profissionalmente e oferecer boa formação inicial e continuada), ajuda muito ter os três subsistemas funcionando como engrenagens conectadas entre si. O acesso a opções culturais, portanto, é parte fundamental de uma Educação de qualidade.


Entretanto, em países marcados pela desigualdade, a cultura tende a ser considerada um artigo de luxo. No Brasil, uma pesquisa da consultoria J. Leiva Cultura & Esporte, realizada na capital paulista em parceria com o Datafolha e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), indica que 40% dos entrevistados não costumam ir ao cinema, 60% não vão a teatros e 61% não frequentam museus. Nos Estados Unidos, onde a diferença entre ricos e pobres têm aumentado nas últimas décadas, começa a ganhar corpo uma tese polêmica: já que os alunos pobres não têm possibilidade de aprender muito durante as férias, que tal reduzi-las - ou mesmo eliminá-las?

Postado por Ramalho Vasconcelos
Fonte: Revista Nova Escola 

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